

ARCADIA BANCO BRB
Arcádia BRB na CASACOR 2025: o tempo suspenso entre o sagrado e o cotidiano.

Emoldurada pelos arcos históricos do Parque da Água Branca, a Arcádia Banco BRB é um convite raro: entrar e respirar um outro tempo. Com 140 m², varanda iluminada e vista generosa para o verde, o ambiente criado por André Bastos e Pedro Luiz de Marqui pulsa entre o teatro e o silêncio — como se a cidade, enfim, se deixasse sonhar.


A proposta, alinhada ao tema da CASACOR 2025, Semear Sonhos, faz exatamente isso: planta uma utopia sensorial, onde natureza e cultura, luxo e afeto, passado e presente coexistem em harmonia surpreendente. Sem a nostalgia paralisante, mas com uma vontade urgente de reencantar.


Logo na entrada, a poltrona Vertigem, em rattan natural, recebe o visitante como um símbolo vivo da delicadeza que resiste. No teto, o papel de parede da grife Versace imprime ornamentos dourados que dançam com a luz, enquanto um Baccarat do século XIX paira acima de uma mesa italiana de acrílico maciço — como uma joia que não pertence a esta era. As flores, secas e frescas, misturam eucalipto, urucum, musgos e frutas, refletindo os cristais do lustre e completando a mise-en-scène.


Ao fundo, a concha que ecoa Botticelli flutua entre instalação e escultura. É uma peça-instalação que transforma o bar em altar, entre drinques e deuses. Já o balcão e os pórticos, em pedra, reforçam a matéria ancestral que ancora o espaço, equilibrando o lúdico com o terreno.


As paredes laterais, revestidas com papel dourado e vibrante, evocam o reflexo da luz sobre superfícies vivas. Essa mesma energia dourada se estende ao forro metálico martelado da varanda, onde o sol parece ter ficado preso, morando ali.


No mobiliário, a presença dos irmãos Campana é um toque de leveza onírica — com destaque para o espelho Clouds e o lustre com hastes de bambu. Já os sofás da varanda, com jacquard que reverencia a Mata Atlântica, acolhem memórias e silêncio. Em uma parede, a obra Flora Urbana faz fachadas de prédios florescerem: uma cidade cansada que se transforma em floresta. Em outra, uma peça surrealista moderna evoca Bosch e amplia o imaginário do espaço.


A escolha das plantas não é decorativa: mini-pitangas, palmeiras jussara e petrópolis, goiaba-da-serra, capim-dos-pampas e philodendros criam um jardim narrativo que abraça quem chega, despertando sentidos e memórias ancestrais.


Mais do que um ambiente de mostra, a Arcádia BRB é um manifesto suave. Uma declaração de amor ao tempo desacelerado, à beleza que toca com gentileza e ao luxo que se traduz em experiência — não em ostentação.


Fotografia: Israel Gollino.
Projeto: André Bastos e Pedro Luiz de Marqui.