

JARDIM ESPELHO DOS SONHOS
Ao atravessar os portões do Parque da Água Branca, um silêncio verde acolhe o visitante. Há algo ali que nos reconecta ao tempo lento da natureza, ao desenho primitivo da vida. É nesse cenário que nasce o “Jardim Espelho dos Sonhos”, projeto da arquiteta paisagista Paula Varga para a CASACOR São Paulo 2025 — uma proposta de integração entre o design humano e o traçado ancestral das árvores.

O ponto de partida foi o primeiro encontro com a natureza já existente, especialmente um imponente Pau-Brasil que domina o terreno. Sombra, luz e proteção: foi desse tripé sensorial que surgiu a inspiração para os 47m² de um jardim de convívio e contemplação. Uma pausa no ritmo da cidade para que possamos olhar de novo — e com mais cuidado — para aquilo que já está ali.


A proposta de Paula parte da valorização do que já existe. Os vitrais com espelhos, que remetem aos janelões do edifício onde acontece a mostra, não são apenas elementos visuais — são convites para reflexão. Neles, o visitante se vê envolvido pela natureza. “Semear sonhos”, tema da mostra este ano, acontece literalmente nos reflexos: um passado preservado que se abre ao novo, numa dança suave entre memória e presente.


O piso de ladrilho hidráulico, os tocheiros, a fonte de granito apicoado e as poltronas Ciranda da marca Areka’a — feitas com madeira maciça de reaproveitamento legal — reforçam a intenção de construir um espaço afetivo, sustentável e belo. As escolhas materiais são, ao mesmo tempo, memória e manifesto.


Entre os elementos mais delicados do jardim estão os ninhos de cerâmica da artista Patricia Degan, inspirados nas construções dos pássaros brasileiros. São peças que falam de proteção, afeto, nascimento. “É isso que os jardins fazem”, explica Patricia, “permitem que a vida floresça com naturalidade, beleza, acolhimento — e esteja sempre em transformação”.


A paleta do paisagismo segue o mesmo gesto de respeito e cuidado: Phoenix roebelenii, philodendrons, pacovas, agaves e samambaias. Plantas de baixa necessidade hídrica, muitas delas resgatadas de memórias afetivas do passado. A sustentabilidade é costurada em cada escolha, em cada curva do projeto — das janelas de demolição ao mobiliário de ciclo consciente, tudo fala da permanência do que tem valor.


A relação de Paula com o paisagismo nasceu cedo, quase como um destino natural. “Meu avô tinha uma empresa de plantas ornamentais. Logo que me formei, ele me convidou para participar da Fiaflora, em São Paulo. Desde então, não parei mais”, conta. A partir daí, vieram formações complementares, vivências internacionais, e o olhar apurado de quem traduz o mundo em jardim. “Sou muito observadora. Gosto de entender quem vai viver o espaço para então criar um conceito que seja, de fato, único.”
No “Jardim Espelho dos Sonhos”, a autora nos lembra que, mais do que plantas e pedras, um projeto paisagístico é um modo de olhar. Um gesto de amor. E de permanência.
Fotografia: Bia Nauiack
Projeto: Paula Varga