João Armentano abre as portas do seu refúgio em Campos do Jordão

Quando João Armentano inicia um projeto, seu primeiro passo é entrar no sonho do cliente para traduzi-lo da melhor forma possível. Para ele, não há outra maneira de fazer arquitetura. Desta vez, o cliente era a família Armentano e, como não poderia ser diferente, colocou seus ouvidos atentos em ação. “Ouvi os cachorrinhos, a minha esposa e os meus filhos”, brinca o arquiteto que, no refúgio em Campos do Jordão, também materializou seus próprios sonhos.

O refúgio do arquiteto João Armentano: tijolos aparentes e vocação contemporânea em meio às montanhas de Campos do Jordão
O refúgio do arquiteto João Armentano: tijolos aparentes e vocação contemporânea em meio às montanhas de Campos do Jordão

A palavra integração norteou a lapiseira de Armentano para desenhar essa casa. “Eu queria compartilhar com a parte externa de qualquer lugar onde estivesse, não queria me fechar envolto de uma lareira, queria ter vista para a montanha”, observa Armentano, ressaltando a importância do contato com a natureza. “Como criador me ajuda muito estar perto das árvores, dos pássaros, isso me inspira a produzir. Minha casa tem todos aqueles vãos, aquele cheirinho, dali vejo o nascer e o pôr do sol. Isso me dá energia.”

Fachada posterior tem portas e janelas generosas que captam a luz do sol e aproximam o espectador da mata
Fachada posterior tem portas e janelas generosas que captam a luz do sol e aproximam o espectador da mata 

Coleções e lembranças

Chama a atenção o design de interiores da construção de 675 metros quadrados. A casa guarda lembranças de viagens e coleções de objetos de várias partes do mundo como pratos, porquinhos (Armentano é palmeirense!) e chapéus. Porém, há uma sala que fica praticamente dentro da mata e é um dos lugares favoritos do arquiteto: “todas as manhãs, um casal de tucano vai ali e bate no vidro pedindo comida. Isso não tem preço!”.

Sala de pé-direito duplo situada abaixo do nível da rua: integração com a natureza
Sala de pé-direito duplo situada abaixo do nível da rua: integração com a natureza

A fachada da casa é discreta, de tijolos aparentes. Sua arquitetura é limpa, com volumes que aproveitam os desníveis do terreno e privilegia a natureza da Serra da Mantiqueira. Na fachada posterior, portas e janelas permitem que a casa se abra para receber a luz do sol e que seus moradores admirem a beleza da vegetação.

Tudo ali tem valor afetivo e status de obra de arte. Observar as paredes recheadas de hélices e gravuras, o ângulo que abriga um par de esquis ou a mesa com a coleção de pedras é como admirar o acervo de um museu. Mas essa casa é, sobretudo, confortável. É o refúgio do guerreiro e o lugar sagrado que aguça a criatividade do arquiteto. “O ambiente me inspira, meu trabalho flui e consigo passar mais tempo com a minha família”, confessa.

Objetos e coleções da família têm valor afetivo e ganham status de obra de arte
Sala de almoço: os pratos fixados na parede foram garimpados nas viagens do casal Armentano
Sala de almoço: os pratos fixados na parede foram garimpados nas viagens do casal Armentano

O desejo do cliente

Se para projetar seu refúgio em Campos do Jordão, Armentano teve liberdade para materializar seus desejos e os de sua família, quando vai criar para um cliente quem manda é o cliente. Impor suas ideias não faz parte do seu modo de trabalhar. 

Essa talvez seja uma das grandes marcas do arquiteto que há quatro décadas constrói sonhos, literalmente. “A casa não será minha, mas da família que está me contratando. Por isso, não posso impor. Devo ouvir e sugerir soluções para proporcionar emoções, sensações e experiências nos espaços”, afirma.

“Sem falsa modéstia, tenho uma facilidade muito grande de entrar na cabeça das pessoas”, revela. “Por exemplo, um casal que se senta comigo pela primeira na mesa de reunião, quando a mulher pisca o olho… eu já sei o que ela quer.” 

Kaká, o ex-jogador de futebol, é um de seus clientes e faz questão de destacar e elogiar a maneira de Armentano trabalhar. “Ele não é vaidoso, no sentido de que tem de ser da forma como acha. Ele discute muito as ideias, mas sempre trazendo soluções muito criativas”, conta Kaká em entrevista no episódio sobre Armentano em Insight, série documental que enfoca arquitetos brasileiros na terceira temporada recém-lançada na Globoplay.

Orientação x imposição

Ao longo de sua trajetória, Armentano foi desenvolvendo essa prática muito característica de seu ofício: “entro na casa do meu cliente, que pode ser uma família ou uma empresa, e procuro atendê-lo da melhor forma, sem impor, mas orientando. Gosto de questionar da seguinte maneira: ‘não ficaria melhor se a gente deixasse mais iluminação natural do que precisar acender a luz durante o dia? E se a gente fizesse uma sala de reunião com mais abertura? Não ficaria mais fresco? Então, vou orientando, perguntado e apontando soluções”.

Iluminação natural: orientação fundamental de Armentano em todos os seus projetos
Iluminação natural: orientação fundamental de Armentano em todos os seus projetos

Enquanto Armentano explica que caminha junto, segurando a mão do cliente, ele vai mais longe e lembra de seus primeiros contatos com Olga Krell, a criadora das revistas Claudia e Casa Claudia e nossa inspiração. “Ela era a nossa musa no sentido da orientação, no sentido do vira à direita, vira à esquerda, por aí, não é por aí. Muitas vezes, ela chegava para mim e falava ‘gostei’. E isso já bastava, já era um endosso, porque ela era crítica, sabia o que era bom e o que era ruim, ela tinha visão”, lembra o arquiteto.

Confira os demais ambientes do apê com vista para a urbe paulistana na galeria abaixo: