

TRILHA ONÍRICA
Guiadas pelo tema Semear Sonhos, as arquitetas Letícia Figueiredo e Priscila Sunao, do escritório Traço 8 Arquitetura, criaram um espaço que transcende a função: “Trilha Onírica” é um banheiro que se transforma em experiência sensorial, em conexão profunda com a natureza e com o tempo das coisas feitas com afeto.

A inspiração veio das trilhas que as arquitetas percorrem como prática de reconexão. Esse percurso pessoal ganha forma em um corredor estreito, onde a obra da artista Dominique Jardy abre caminho entre folhas pintadas à mão e silêncios carregados de poesia. O paisagismo exuberante, assinado por Kelly Hornos, traduz em vida real o que antes era apenas traço e cor — folhas, aromas e texturas que convidam à contemplação.


No final do percurso, a janela arqueada do Parque da Água Branca emoldura o verde como um quadro vivo. A bancada em quartzito Avocatus, os vasos-escultura de Alisson Silva, as cubas Corten da Deca e a poltrona Terra, de Pedro Luna, fazem do espaço um território entre arte, função e poesia.


As texturas ganham protagonismo: o revestimento cerâmico Invecchiatto, da Lepri, lembra o toque da terra úmida e guia os passos com suavidade. No teto curvo, o MDF Nogueira Bourbon envolve o visitante como o interior de uma árvore, enquanto a iluminação desenha sombras que mudam ao longo do dia, como num passeio sob a copa das árvores.


O espaço conta com três cabines, incluindo uma PNE com fraldário, todas revestidas pelas mesmas pinturas botânicas do início da trilha — um gesto que garante a continuidade da narrativa e reforça a ideia de que cada canto pode ser contemplativo. A tecnologia está presente com sutileza, nos metais e cubas de alto desempenho, que não comprometem a leveza estética do ambiente.


No centro da composição, a escultura Favo, assinada por Rapha Preto, representa a essência do projeto: o poder do coletivo, da troca e da delicadeza compartilhada. “Trilha Onírica” é, acima de tudo, um convite à pausa — uma lembrança de que até os espaços mais funcionais podem ser portais para o sensível, para o simbólico e para o sonho que cada um de nós carrega.
Fotografia: Israel Gollino