CASACOR São Paulo

8 estreias em CASACOR São Paulo

CASACOR São Paulo, plataforma cultural de arquitetura, paisagismo e design de interiores, transforma o Conjunto Nacional, icônico edifício modernista na capital paulista, assinado pelo arquiteto David Libeskind (1928-2014), em um centro artístico e pulsante, trazendo referências da arquitetura e novos nomes à cena, além de lançamentos de produtos e tecnologia, até 28 de julho. 

A 37ª edição tem como tema “De Presente, O Agora”, e os profissionais foram desafiados a transformar seus espaços —livings, banheiros, suítes, salas de jantar, escritórios, restaurantes, lojas, quartos de bebê, galerias, jardins e muitos outros— em momentos de reflexão sobre as decisões cotidianas e o passado, representado por todos os que vieram antes.  

Confira alguns profissionais que participam pela primeira vez da CASACOR São Paulo.

Fora do óbvio

O arquiteto curitibano Gustavo Scaramella criou um espaço que vai além das convenções. É um refúgio atemporal, onde a harmonia entre forma, função e responsabilidade ecológica é celebrada em cada detalhe. “Minha expectativa é encorajar as pessoas a fazerem o ambiente para elas mesmas, não para os outros, não para mostrar para os outros, não pensando tanto no que o familiar, o amigo, o vizinho vão pensar ou achar do seu espaço. É quase um manifesto por personalidade. O ambiente em si fala muito de mim. Mas acho que a mensagem principal dele é que a gente tem que fazer casa com cara de casa, independentemente de estilo, de corrente que se siga, se é minimalista ou maximalista, se é neutro ou colorido, mas que tenha a personalidade do morador, não só do profissional”, afirma.

O piso de madeira em dois tons, ebanizado e clareado, com círculos de Mármore Napoléon Bordeaux incrustados, serviu de ponto de partida para a concepção do Hall do Apartamento.
Com uma composição surpreendente de peças, a mesa dá as boas-vindas com muitas referências como livros do seu acervo pessoal e de assuntos que ele admira. Excêntrico, o lustre francês, feito de ferro, chama a atenção pela forma escultórica. Um quadro de o quadro de Elke Maravilha, uma criação de Abidiel Vicente, enfatiza a autenticidade e personalidade vibrante.
Na composição, o banco Centopeia, do designer Maximiliano Crovato, o espelho Orgus, de Humberto da Mata, a mesa de apresentação francesa, dos anos de1970, até a cadeira Louis XVI à la Reine, refletem sua visão única de mundo e se traduzem como um convite para uma jornada através do tempo e do espaço.

Explore o ambiente, confira mais fotos. [Fotos: Bia Naiuack/Divulgação]

África materializada

A arquiteta Kesley Santiago reverencia sua ancestralidade com o quarto de bebê com 25 m², batizado de Njinga. Inspirada no tema “De presente, o agora”, e em suas próprias raízes, o quarto é uma homenagem à líder do povo Mbundu e rainha de Ndongo e Matamba, que resistiu à ocupação europeia e à escravização de seu povo por quatro décadas. Os materiais —madeira, sisal, ferro e palha— estão em evidência no ambiente e ajudam a contar a história do povo Mbundu.

A arquiteta brinca com os recursos lúdicos presentes no espaço. Brinquedos e pelúcias são da Santa Carambola.

O ambiente está repleto de texturas e elementos simbólicos que remetem à diversidade cultural e à riqueza da região central da África. No espaço, uma luminária pendente luminária África, feita em parceria com a Iluminoo, remete aos recursos naturais do território do reino Ndongo. Peças em barro, tapetes e uma poltrona — que cria a estética de um pavão com as asas abertas — também se destacam.
Cada elemento, desde as estampas até os aspectos naturais, foi escolhido para refletir a essência e a beleza do povo Mbundu, evitando estereótipos ou lugares comuns referentes ao continente. Kesley projetou o mobiliário, papéis de paredes e enxovais, em parceria com Muskinha.

Explore o ambiente, confira mais fotos. [Fotos: Bia Nauiack/Divulgação]

Acervo Vintage para inspirar o trabalho

O home office idealizado pelo arquiteto carioca Rodolfo Consoli é contemporâneo, acolhedor e repleto de móveis vintage. Com base neutra, as cores mostarda, terracota e verde aparecem em pontos estratégicos, como o mobiliário, obras de arte e o tapete com maxi estampa floral, em tons de verde, terracota e mostarda (da Galeria Hathi). Entre as peças vintage garimpadas na Galeria Teo, estão o sofá Maralunga (Vico Magistretti para Cassina), a poltrona MP-71 (Percival Lafer), a cadeira de trabalho Commander (Jorge Zalszupin), a reedição da poltrona Kid (Zanine Caldas) e do gaveteiro em madeira Miniatura (George Nelson) e atualmente produzido pela Herman Miller), os quatro banquinhos Mini Mel (Marina Moreira), além da luminária pendente Serpentine assinada pelo Studio Front para holandesa Moooi (sobre a mesa de trabalho), as duas mesas laterais Slit (cromada e dourada) da dinamarquesa Hay e, sobre elas, as luminárias da Foscarini. Em forma de cabeça, com as flores que lembram cabelo, o vaso cerâmico, da italiana Fornasetti, traz um toque de humor ao décor. A curadoria de arte ficou a cargo de Adriana Jacob, que selecionou obras do artista Luis Sacilloto (atrás do sofá), e os cinco quadros que exploram o conceito de simetria e cores contrastantes, da artista de Jandyra Waters.

Fotos: MCA Estúdio/Divulgação

Além da mesa de trabalho, que fica próximo à janela da fachada, o espaço conta, de um lado, com uma área de estar e, do outro, uma extensa estante piso-teto de marcenaria e mármore, composta de nichos pequenos para livros e adornos, nicho central com função de bar e nicho inferior para lareira. Para filtrar a luz externa e trazer para dentro do espaço um pouco do verde da copa das árvores da Alameda Santos, Rodolfo lançou mão de persianas horizontais de madeira, que também deixaram o escritório mais acolhedor.

Precisão e técnica

Um dos pontos de partida da dupla ֫—o arquiteto Bruno Reis e a designer de interiores Helena Kallas— para a concepção da Cozinha Torno foi a experiência vivida por eles, modelando barro com esse instrumento que veio a dar nome ao ambiente. O aprendizado de uma técnica proporcionou a concepção, especialmente para a mostra, de uma coleção de vasos e bases de luminária, assim como dos revestimentos cerâmicos artesanais (Cerâmica e Cia) que compõem o tampo da mesa – elemento central do espaço.
As formas torneadas ainda estão em uma das extremidades do tampo da mesa – estruturado em serralheria – e no encosto das clássicas cadeiras “Tião”, de Sérgio Rodrigues, garimpadas na Galeria Téo. Restauradas, as peças têm novo estofado com trabalho realizado pela Bela Ideia, em tecido azul.

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Explore o ambiente, confira as fotos. [Fotos: Israel Golino]

Ancestralidade afro-brasileira

O arquiteto Alexandre Salles, do Estúdio Tarimba, idealizou o espaço-instalação artística: Terreiro. Na entrada, as boas-vindas ao recinto, se dão por meio de altares.

Com 141 m² e na cor terracota, o ambiente ressalta a importância histórica, cultural, religiosa — e de preservação de memórias afro-brasileiras. “Usar lajotas e revestimentos que criam essa ligação com a terra e com o barro faz todo sentido”, reflete.

O ambiente é preenchido de elementos verticais que evocam materialidades e memórias, plantas e sincretismo em convergência, resultando em um espaço dinâmico de vivências, encontros e aprendizados. Veja imagens abaixo. [Fotos: Salvador Cordaro/Divulgação]

Monta-e-desmonta

Do escritório carioca Sabugosa Arquitetura, o espaço Steel House, cujo método construtivo permite que seja reconstruído em outros locais, apresenta ambientes integrados e minimalistas, tendo como conceito principal o conforto e praticidade que se dividem entre living, cozinha, suíte com área de banho externa. Com paredes curvas e ângulos orgânicos, a arquitetura moderna se faz presente em todos os detalhes, passando pelo desenho da marcenaria, bancadas e mobiliário selecionados. No piso, o revestimento é o Tauari Olhos D’água, da Akafloor.

Explore o ambiente, confira as fotos. [Fotos: MCA Estúdio]

Ilha de conforto

A designer de interiores Letícia Granero assina o espaço Um Dia de Cada Vez, idealizado para ser um oásis de contemplação. Para isso, escolheu materiais naturais e mobiliário com formas orgânicas. As pedras refletem as emoções diárias, assim como os veios entrelaçados representam a complexidade dessas emoções. A presença da madeira cria uma atmosfera serena e acolhedora. O destaque é o lustre com um design exclusivo desenhado pela profissional que se inspirou nas ondas do mar a fim de conferir movimento ao ambiente.

Explore o ambiente, confira as fotos. [Fotos: Rafael Renzo]

Sincretismo religioso

O banheiro Sincrético, assinado pela arquiteta Isadora Araújo, do Panapana Estúdio,  reúne culturas, rituais e raízes do povo brasileiro. “A proposta é mostrar uma vertente mais livre e autoral do nosso trabalho para um público diverso e interessado em design, arquitetura, criatividade e tecnologia. Ao mesmo tempo refletir não só sobre a nossa produção, mas como sociedade, além de exercitar a criatividade”, afirma. O espaço foi construído com elementos que lembram a orixá Nanã Buruqûe, e Sant’Anna, mãe de Nossa Senhora – evocando a atmosfera sagrada para ambientes inusitados.

A bancada, de mármore Calacata bruto, recebe o visitante no espaço em uma alusão à túnica branca de Sant’Anna, representando a pureza do universo espiritual. Já o véu verde da santa, que remonta à simplicidade e renovação, é retratado pela cerâmica da mesma cor, com efeito martelado, da Ceusa. O cobre, elemento de Nanã, marca presença no tom eleito para as portas das cabines, os metais Deca e os detalhes do mobiliário. A cor distintiva da orixá, o roxo, é percebido em flores e arranjos eleitos para adornar o banheiro. Enquanto isso, as oferendas que a entidade gosta, como o milho cozido ou pipoca, são compreendidas por meio dos delicados pontos de luz da luminária central do ambiente.

Fotos: Mariana Camargo