

CASA CUMARU
Localizada em Barueri, a Casa Cumaru é um dos projetos mais emblemáticos recentes do FGMF Arquitetos. A residência apresenta uma abordagem madura e contemporânea sobre como estruturar, ocupar e integrar um lote urbano. À primeira vista, a casa chama atenção pela transparência do pavimento térreo, que parece quase desaparecer, mas é na solução estrutural do volume superior que o projeto revela sua intenção mais ousada.

A organização programática segue a lógica de um sobrado tradicional. As áreas sociais ocupam o térreo, o subsolo abriga garagem, áreas técnicas e de serviço, e o pavimento superior concentra quatro suítes, home theater e escritório. Mesmo utilizando uma tipologia conhecida, a residência ganha singularidade a partir da forma como o bloco superior é sustentado. A casa não repousa sobre o térreo. Ela é literalmente pendurada por uma sequência de pórticos que criam um gesto arquitetônico marcante e que libera a planta do nível inferior.


Esse sistema estrutural é formado por diferentes componentes. De um lado, quatro pilares em concreto fazem a ancoragem dos pórticos. Do outro lado, apenas dois pilares metálicos sustentam uma grande treliça com 22 metros de extensão, responsável por conduzir todo o esforço estrutural das vigas em concreto que passam sobre a laje de cobertura. Esse conjunto de elementos mistura aço e concreto em uma solução de altíssimo desempenho, permitindo vãos amplos e um térreo quase totalmente envolto por superfícies de vidro.


A leveza resultante dessa escolha é um dos valores centrais do projeto. O térreo funciona como uma grande área de convivência aberta para o jardim e a piscina. As salas, a cozinha, a varanda e a sauna se conectam visualmente, criando um ambiente contínuo que dilui qualquer limite entre interior e exterior. A casa se abre para o paisagismo de Daniel Nunes de forma fluida. Em vários pontos, a vegetação avança sobre o espaço interno e, em outros, é apenas separada do convívio diário por painéis de vidro que funcionam como membranas delicadas.


A materialidade reforça essa atmosfera acolhedora e integrada. A madeira cumaru, que dá nome ao projeto, aparece em diferentes soluções. No pavimento superior, o material forma um revestimento ripado que controla luz e garante privacidade. Na área da piscina, brises móveis também em cumaru modulam sombra e ventilação. As portas camarão que conectam os quartos à área externa retoma o mesmo calor da madeira. No térreo, a varanda recebe deck em madeira e o espaço gourmet utiliza madeira carbonizada, criando contrastes e texturas que enriquecem a experiência sensorial da casa.


A composição geral é marcada por um diálogo preciso entre materiais. Concreto, aço, vidro, água e vegetação atuam de forma complementar. O resultado é uma arquitetura que parece flutuar sem esforço, mesmo sustentada por um sistema estrutural sofisticado e monumental. A paisagem ganha protagonismo, e a casa se transforma em uma espécie de pavilhão contemporâneo onde cada ambiente se relaciona diretamente com o exterior.


Com 1.275 metros quadrados de área construída, a Casa Cumaru demonstra como soluções técnicas avançadas podem coexistir com leveza, delicadeza e conforto. A residência acolhe o cotidiano de forma silenciosa e natural, ainda que sustentada por um dos sistemas estruturais mais expressivos do portfólio do FGMF. A arquitetura aqui não busca apenas resolver um programa, mas criar uma experiência permanente de conexão com a natureza, com a luz e com a própria materialidade da construção.
Projeto: FGMF Arquitetos
Fotografia: Fran Parente


















