David Guerra expressa a arquitetura afetiva no projeto da Casa Conquista

O arquiteto David Guerra é um caçador de afetos. Em cada projeto, ele expressa a arquitetura afetiva, isto é, aquela que “transforma dor em cor, beleza em cura, que faz o mundo melhor” – como costuma definir. Foi essa forma particular de ver e fazer a arquitetura que David imprimiu com maestria na Casa Conquista, sede de uma fazenda de soja, em Rolândia, no Paraná, que veremos aqui em detalhes.

“Desde que nascemos, tudo o que fazemos – para o bem ou para o mal – é buscar afeto. Acho que, sobretudo na arte e na arquitetura, a gente tem que trazer à tona um mundo melhor”, afirma David na abertura do episódio sobre ele em Insight, série documental que enfoca arquitetos brasileiros e está na terceira temporada recém-lançada na Globoplay. “Acredito na beleza como usufruto, não como ostentação; acredito na beleza como cura. Meu trabalho sempre esteve ligado àquilo que considero arquitetura afetiva, feita para compartilhar com as pessoas.”

Afeto e cura

Mas para chegar ao que hoje são suas marcas registradas – a arquitetura afetiva e a beleza como cura –, David trilhou um caminho inspirado por duas mulheres: sua mãe e a arquiteta Freusa Zechmeister. Ainda muito pequeno ele percebeu que a beleza poderia trazer alegria à mãe, que havia perdido um filho de sete anos, quando David ainda era bebê. 

“Eu sentia a tristeza dela e, para tentar deixá-la mais feliz, pegava folhas e mostrava a ela as texturas, cores, desenhos. Você usa algo que desvia o pensamento da tristeza para algo ligado à natureza, ao belo. E essa beleza é generosa, é para ser compartilhada, ela está aí para abraçar qualquer um”, sentencia David, que seguiu sua trajetória cultivando o belo, tendo Freusa como mentora. “Com ela aprendi a unir arte, design e arquitetura e descobri o que eu realmente queria fazer.” Aliás, foi por intermédio de Freusa que David conheceu Olga Krell, criadora das revistas Claudia e Casa Claudia e nossa musa inspiradora. 

“A Olga veio a Belo Horizonte para lançar o primeiro evento de mostras de decoração, o Encol Decora, num prédio no bairro de Lourdes, em 1991”, lembra o arquiteto, que, entre os 20 prêmios recebidos ao longo de sua carreira, três são o Olga Krell de Arquitetura e Decoração. “Criamos a fachada, a entrada e a portaria do prédio que abrigou a exposição. Até hoje, o que a Freusa fez é vanguarda, ela sempre foi uma mulher laboratorial. E a Olga buscava essas informações. Ela foi uma diva, a primeira mulher a democratizar a arquitetura de interiores no Brasil, a divulgar novos talentos fora do eixo Rio–São Paulo.”

Projeto enfatiza os jardins e a paisagem, que inclui figueira centenária
Projeto enfatiza os jardins e a paisagem, que inclui figueira centenária

Objetos de família

Os jardins e a paisagem eram os pontos de partida perfeitos para ele dar asas à sua arquitetura do afeto, que trabalha a natureza, a arte e os elementos naturais. “Mas a natureza não é só o que está em volta, é o que está dentro. Aquilo que te conecta às origens. Então, tem barro, tem pedra, tem madeira e tem objetos de família, como, por exemplo, as quatro cadeiras suíças compradas pelo pai dela há 80 anos e o tapete de 7m x 6,5m, que estava do apartamento deles em Berlim.”

No living, objetos de família complementam a arquitetura afetiva: cadeiras de 80 anos de idade e tapete de 7m x 6,5 m
No living, objetos de família complementam a arquitetura afetiva: cadeiras de 80 anos de idade e tapete de 7m x 6,5 m

A transparência é um outro aspecto fundamental do projeto. “Ela nos conecta com a natureza como elemento, porque, muitas vezes, se você não tem essa presença, nem percebe que ela é tão poderosa”, observa David. “O resultado é uma casa que se abre, que vai criando uma cena que te permite entrar até em processo de meditação. Todo dia vendo aquela beleza, mais facilmente vai te acalmando.” 

Arquitetura afetiva: Madeira e vidro são materiais que ajudam a criar conexão com a natureza
Madeira e vidro são materiais que ajudam a criar conexão com a natureza

Além do destaque dado à natureza, uma das solicitações era que a casa tivesse uma planta única, um telhado amplo, como as fazendas coloniais, iluminação abundante e ventilação cruzada. A implantação elevou a casa para proporcionar uma vista do rio no fundo do terreno, mas também para preservar a localização da piscina, alterando apenas o piso do deck, assim como a oficina, as garagens e o espaço de lazer. 

Arquitetura afetiva: Implantação elevou a casa e preservou a área da piscina
Implantação elevou a casa e preservou a área da piscina

A opção pelo pé direito alto foi para trazer amplitude. E mais: uma grande sacada, além de conectar a cozinha, a sala de jantar, a sala de estar, o escritório e os quatro quartos, convida à contemplação da paisagem.

A grande sacada conecta os ambientes e convida à contemplação
A grande sacada conecta os ambientes e convida à contemplação

Como bom proseador e frasista, David afirma: “criar é brincar de Deus. É uma energia vital, você pode transformar dor em flor, beleza em cura. Criar é entender que aquilo tem uma dimensão infinita e pode tornar a vida dos outros melhor”. Recentemente, a dona da Casa Conquista revelou a ele: “sou uma pessoa tão mais feliz depois da casa nova”. 

Missão cumprida, David!

Confira mais fotos da Casa Conquista, na galeria abaixo: