

DÉJÀ VU
Na pulsante narrativa da CASACOR São Paulo 2025, onde a arquitetura se exibe em sua multiplicidade de formas, cores e discursos, há um espaço que segue na contramão. Um refúgio que silencia o excesso, desacelera o olhar e convida à contemplação. Trata-se do Déjà vu, ambiente assinado pela Fichberg Arquitetura, que transforma a experiência de visitação em algo íntimo, quase secreto — como se, por um instante, estivéssemos sendo devolvidos a nós mesmos.

O nome não é por acaso. Déjà-vu carrega o peso poético das sensações inexplicáveis — aquelas em que, diante do novo, temos a certeza de já termos estado ali. A proposta da Fichberg nasce justamente desse intervalo entre o vivido e o imaginado. É um espaço que não se explica. Ele se reconhece. Um território afetivo que evoca lembranças vagas, imagens esmaecidas, atmosferas que já nos atravessaram um dia, mesmo que não saibamos dizer quando, nem onde. E é nessa ambiguidade — entre memória e invenção — que reside sua força.


O ambiente é construído com extrema precisão sensorial. Cada material, cada curva, cada textura foi pensado para criar uma coreografia sutil, onde o corpo do visitante é guiado não por estímulos visuais exuberantes, mas por sugestões táteis, olfativas e emocionais. A luz, sempre difusa e cuidadosamente controlada, não pretende revelar, mas sim envolver. Ela desenha sombras brandas sobre superfícies naturais, convidando ao toque, ao silêncio, à introspecção. A arquitetura não grita. Ela respira.


Ao adentrar o espaço, é possível sentir um deslocamento quase físico: a percepção do tempo se altera, o ruído da mostra parece desaparecer, e uma calma pouco comum se instala. Isso se deve, em parte, à materialidade escolhida. As texturas orgânicas, os tecidos crus, a madeira com veios aparentes e as pedras em estado quase bruto remetem a uma natureza filtrada pela memória — nada aqui é literal, mas tudo carrega alguma ancestralidade. A escolha da paleta também contribui para esse sentimento de suspensão. Tons de areia, névoa, argila e musgo criam um ambiente que flutua entre o onírico e o acolhedor. É como entrar em um sonho do qual não queremos acordar.


O mobiliário, de linhas baixas e formas curvas, foi cuidadosamente disposto para não apenas ocupar o espaço, mas sugerir permanência. São peças que convidam a sentar, a demorar, a habitar. Não há imposição estética, mas sim uma elegância quase intuitiva, que comunica uma ideia de luxo emocional — aquele que não está nas aparências, mas na experiência. Objetos de memória, obras de arte de aparência etérea e esculturas sutis completam o cenário como se fossem fragmentos de histórias pessoais, deixadas ali por alguém que partiu, mas ainda ecoa.


A proposta da Fichberg Arquitetura vai além da beleza formal. Ela propõe um manifesto sobre o tempo e sobre como o habitar pode ser um gesto de afeto. Em um mundo cada vez mais acelerado, o Déjà-vu oferece um convite radical: desacelerar, estar presente, sentir o agora com toda a profundidade que ele merece. E ao fazer isso, a arquitetura reencontra sua vocação mais nobre — a de emocionar. Porque, no fundo, é isso o que nos faz lembrar. Não o que vimos, mas o que sentimos.


Ao sair do ambiente, o visitante leva consigo uma impressão que não se dissipa facilmente. Como um perfume que permanece na pele mesmo após o toque ter cessado. Como uma lembrança de infância que se confunde com a imaginação. Como uma ausência que permanece presente. O Déjà-vu, da Fichberg Arquitetura, é isso: uma arquitetura que toca sem invadir, que marca sem ferir, que permanece sem precisar se explicar.
Projeto: Fichberg Arquitetura
Fotografia: Bia Nauiack