Ícones arquitetônicos: um passeio pelas obras de Artacho Jurado
Elementos ornamentais e decorativos, cores vibrantes e espaços de convivência: eram os destaques dos edifícios lançados nas décadas de 1940 a 1960, em São Paulo, pelo arquiteto autodidata João Artacho Jurado (1907-1983).
Cinderela, Louvre, Bretagne, Piauí, Planalto são alguns dos empreendimentos que são verdadeiros ícones arquitetônicos e, ainda hoje, objetos de desejo, por sua arquitetura e características únicas, como fachada, cobertura, escadas e até tipografia.
Em um tempo em que imperavam as linhas retas da arquitetura moderna, o também empreendedor imprimiu o seu estilo na paisagem urbana com muitas inovações, que vão do uso das cores, texturas e formas. Além disso, rompeu padrões ao incluir áreas de lazer e convívio.
Jurado desenhava à mão lustres, cobogós, gradis de guarda-corpos, a paleta de cores de cada edifício, as marquises das coberturas e as amplas janelas pouco usuais no período. Assim, seu legado contempla além da arquitetura, a indústria dos empreendimentos imobiliários e a propaganda.
Ele foi pioneiro na oferta, no térreo e na cobertura dos projetos, de áreas comuns, onde os moradores poderiam se encontrar, entre salões de festas, de chá, de música e galerias de arte. Um estilo de vida no gênero american way of life, que era viabilizado com espaço para publicidades e anúncios nas coberturas, barateando o valor do condomínio.
O empreendedor ressaltou desejos e perspectivas sociais e culturais de toda uma época, demonstrando como a experiência do morar tornou-se uma das principais vitrines da vida moderna.
Estilo cinematográfico
Nascido no bairro do Brás, em São Paulo, em 1907, filho de imigrantes espanhóis, ele começou a sua carreira como letrista de cartazes, estandartes, feiras e exposições, na década de 1920. Depois, passou a desenhar estandes para feiras industriais. Acabou se estabelecendo como organizador de grandes eventos, como as exposições Centenário da cidade de Santos e Bicentenário de Campinas.
Em 1946, Artacho Jurado decidiu entrar na construção civil ao lado do irmão Aurélio. Os dois construíram casas, pequenos prédios e vilas. Na década de 1950, criaram a Construtora Monções, fonte de suas obras mais emblemáticas. O primeiro empreendimento foi um conjunto de casas no bairro do Brooklin Novo, na zona sul de São Paulo, no qual a venda dos imóveis incluía telefone e automóvel.
O ambiente festivo embalava as suntuosas inaugurações dos prédios: havia bandas e fanfarras, convidados internacionais, políticos, celebridades, religiosos e apresentações musicais e de dança.
Exposição até 15 de setembro, no Itaú Cultural
Até 15 de setembro, com entrada gratuita, é possível conferir detalhes de sua vida, personalidade e obras na Ocupação Artacho Jurado, no Itaú Cultural. São cerca de 130 peças, entre imagens, fotografias, vídeos, desenhos originais, publicidade de época, uma maquete e o acervo pessoal da família Jurado – além de recursos acessíveis.
É possível conferir dezenas de imagens do edifício Parque Verde Mar feitas pelo fotógrafo alemão Hans Günter Flieg. Nascido em 1923, ele é um dos mais versáteis profissionais a registrar o desenvolvimento industrial, arquitetônico e publicitário de São Paulo.
Com os ensaios fotográficos encomendados por Artacho Jurado, ele ressaltou desejos e perspectivas sociais e culturais de toda uma época, demonstrando como a experiência do morar tornou-se uma das principais vitrines da vida moderna, um aspecto em consonância com o modo como o arquiteto projetava e vendia seus edifícios.
Concepção e curadoria:
Guilherme Giufrida, Jéssica Varrichio e Itaú Cultural
Crédito foto capa: Tuca Vieira