Leo Shehtman at work
A Revista Olga visitou o escritório de Leo Shehtman para um conversa sobre sua carreira.
Como muitos da sua época, a história de Leo se confunde com sua amizade com Olga Krell. Ele é arquiteto. Ela era arquiteta e jornalista. Até 2015, quando Olga faleceu, cultivaram uma forte amizade e parceria, que ajudou a escrever a história da arquitetura e do design brasileiros. Quando se conheceram, em 1977, Leo era recém-formado e Olga estava à frente da recém-criada Casa Claudia, a primeira revista do segmento. Para ele, que começava a imprimir seu talento no mundo, o encontro faz parte de suas melhores memórias com Olga Krell.
Esse foi um daqueles momentos cruciais da vida. Leo lembra que estava com quase 24 anos, quando uma produtora da Casa Claudia lhe telefonou dizendo que gostaria de fotografar o seu apartamento porque passou em frente ao prédio e a construção chamou a sua atenção. “Achei que era trote!”, confessa.
O jovem arquiteto morava na cobertura do edifício que seu pai, também arquiteto, havia construído. “Por fim, a produtora foi lá em casa com o fotógrafo e, quando a dona Olga viu as fotos, quis me conhecer. Esse trabalho, que era a minha primeira obra, foi capa da revista!”, comemora.
Daí em diante, a admiração mútua só cresceu, frutificou e transformou-se em amizade da vida. “Acompanhei a Olga até seus últimos momentos. Quando eu falo dela, me emociono, porque realmente foi uma amiga e guia profissional. Poucos tiveram a oportunidade que tive.”
Reconhecimento
Leo conta que aprendeu muito com Olga, tanto sob o ponto de profissional como pessoal. “Ela não tinha um fio de cabelo fora do lugar, chegava aos lugares pontualmente, parecia uma mulher, assim, superior, mas me ensinou uma coisa fundamental que levo comigo desde sempre: a humildade. Ela nunca perdeu a humildade.”
Outra palavra que Leo faz questão de colocar junto a Olga é seriedade.
“Ela mudou o nosso mercado, ela mudou a nossa visibilidade, deu seriedade ao mercado”, afirma. Para justificar a sua afirmação, Leo cita a importante mostra CasaCor: “em sua primeira edição, Olga era da comissão que escolhia quem entrava na exposição. Ela sempre foi muito justa, não votava no amigo ou na filha da amiga ou naquela que mandava um presente. Ela votava naquele em que acreditava ter talento”.
36 anos de CasaCor
A CasaCor, aliás, é um evento no qual Leo participa há 36 anos e, como faz questão de ressaltar, “a Olga estava sempre presente e incentivando”. “É um orgulho, porque estar numa mostra em que é preciso criar, viabilizar e pagar, não é fácil. A cada ano é um desafio, uma conquista, mas são 36 anos de conquista e não existe nada melhor do que a gente ter que se reinventar, trabalhar a mente”, observa.
Que Leo Shehtman se mantém relevante e conectado, ninguém tem dúvida, tanto que já está tocando a todo vapor o projeto de seu ambiente na próxima edição da CasaCor, que acontece em maio em São Paulo. “Acompanho o mundo, sei o que está acontecendo e a CasaCor, para mim, é uma prova de teste”, diz.
Processo de criação
Mas, como o arquiteto trabalha quando é contratado para desenvolver o projeto de um cliente? Até onde vão as ideias do profissional e o desejo e gosto do cliente? “Em primeiro lugar, faço uma reunião com o cliente, nunca mando ninguém da minha equipe, eu que vou”, revela Leo. Ele explica que, nesse momento, aproveita para observar o estilo de vida e as necessidades do cliente. “É óbvio que essa pessoa chegou até mim porque alguma coisa a gente tem em comum”, ressalta.
Ele afirma que não existe um estilo Leo Shehtman, mas se considera um arquiteto contemporâneo. “Acho que sou uma pessoa moderna, mas acho também que existe a confiança”, pontua. Para exemplificar a sua maneira de criar e a relação com os clientes, ele conta que recentemente fez a casa de um advogado e sua mulher, que têm cerca de 80 anos de idade, e estão mudando para um apartamento maior. “Não posso criar algo extremamente contemporâneo. Esse advogado tem muitos livros, então, projetamos uma biblioteca toda de madeira… Porém, eu pergunto: é o apartamento onde eu moraria? Não. Mas a função do arquiteto não é definir, é orientar. E dentro dessa orientação, conseguir o resultado que agrade.”
Trabalho em equipe
Ao falar sobre o seu processo de criação, Leo faz questão de destacar a importância da sua equipe. Depois que o projeto está pronto, ele define o executivo e um arquiteto que vai acompanhar. “Criamos uma engrenagem que funciona sozinha, com energia boa e com bom astral. Quero que, quem trabalhe comigo, trabalhe com vontade. Eu sou privilegiado, tenho bons profissionais do meu lado.”
Ao longo da tão bem-sucedida carreira de Leo Shehtamn, ele conquistou uma legião de admiradores que adorariam ter suas casas assinadas por ele. Porém, para quem ainda não teve esse privilégio, o arquiteto dá algumas dicas, apesar de achar complicado dar dicas, porque “a gente tem que generalizar”. “Cada projeto é um projeto, cada espaço é um espaço. Mas eu diria que, em primeiro lugar, para dar certo, tente simplificar para não errar. E há três itens que considero importantes para o sucesso de um projeto: tecnologia, praticidade e design”.
Mas não se esqueça de algo importante, como o arquiteto já explicou quando vai iniciar um projeto: levar em conta o estilo de vida. “Antigamente, a gente até viajava a Milão para ver as tendências do que ia acontecer no mercado. Eu acho que hoje essa palavra tendência, no meu vocabulário, eu mudo por estilo de vida.”