

MEU VERDE, MEU SERTÃO
Profissional: Gleuse Ferreira
Localização: Casacor 2025
Em um retorno marcante à CASACOR São Paulo, a arquiteta Gleuse Ferreira assina a bilheteria da edição de 2025. Sob o tema Meu Verde, Meu Sertão, o projeto reflete não apenas o olhar contemporâneo da profissional, mas também um mergulho profundo em suas raízes sergipanas, evocando a memória afetiva de seus bisavós Lampião e Maria Bonita.
Com 89 m², o espaço acolhe os visitantes da mostra em um convite ao afeto e à ancestralidade, alinhando tradição, arte popular e sustentabilidade.

Um sertão vivo, fértil e poético
Sob o mote Semear Sonhos, a 38ª edição da mostra acontece no Parque da Água Branca — patrimônio histórico e verde da cidade de São Paulo. Foi a partir dessa conexão com o território que Gleuse se inspirou para criar a bilheteria. “O primeiro ambiente da CASACOR precisa traduzir as ideias que o evento propõe discutir. Meu desafio foi materializar isso com autenticidade e personalidade”, conta.
O sertão de Gleuse é um sertão verde, vivo, pulsante — como aquele que ela reencontrou durante uma viagem ao interior do Nordeste. “Vi um cenário completamente diferente do árido que muitos imaginam. Havia cor, movimento e poesia em cada detalhe.” Essa percepção guiou suas escolhas estéticas, como o uso das folhagens verdes desbotadas no papel de parede da Branco.casa, replicadas com leveza também nas cortinas.


Diálogo entre o rústico e o contemporâneo
A estrutura original do antigo celeiro onde está instalada a bilheteria foi mantida quase intacta. “Quase nada precisou de restauro. Bastou uma boa limpeza para ressaltar a beleza da serralheria e do telhado em duas águas”, relembra Gleuse. O piso original foi coberto com revestimento cimentício 5 x 5 cm da Colormix, que preserva a rusticidade, mas traz uma nova textura ao espaço.
A escultura do artista sergipano Véio se destaca ao remeter à força estética da Caatinga e ao universo nordestino. Já o papel de parede com obra de Marcelo Eco, artista visual e grafiteiro, cria um fundo vibrante com ilusão de ótica e paleta intensa, adicionando uma camada urbana e ousada ao projeto.


Um ponto de encontro
Mais do que uma entrada, Gleuse projetou a bilheteria como um espaço de permanência. O layout favorece a circulação fluida e convida o visitante a vivenciar o ambiente desde o primeiro passo. O balcão da recepção, estrategicamente posicionado, organiza o fluxo das filas enquanto deixa o restante do espaço livre para encontros e descanso.
“Muitas pessoas se encontram na bilheteria antes de começar a mostra. Então, pensei em um espaço acolhedor, como uma sala de estar, onde se possa esperar com conforto”, explica a arquiteta.


Curvas, cores e memórias
O mobiliário, assinado por Roberta Banqueri e fornecido pela Full House, valoriza as formas curvas — como no sofá Fami e na mesa de centro — em contraste com a rigidez das estruturas metálicas do prédio. “Esse sofá é quase um abraço coletivo. Representa o desejo de receber o público como se fosse parte da nossa grande família.”
O tapete roxo da By Kamy — cor pela qual Gleuse se apaixonou — delimita com suavidade o living, reforçando o traço orgânico do projeto. Acima, a luminária do Estúdio Dentro lembra os balões das festas juninas, iluminando o ambiente com a mesma delicadeza que embala as memórias afetivas da arquiteta.


Um sertão que sonha o futuro
Entre o rústico e o moderno, o pessoal e o coletivo, Meu Verde, Meu Sertão resgata o passado para apontar caminhos possíveis para o futuro — mais afetivos, sustentáveis e conectados às raízes. Uma bilheteria que é mais que entrada: é portal para sonhos semeados com verdade.


Fotografia: MCA Estúdio